sábado, 14 de novembro de 2015

Sobre o desastre ambiental em Minas Gerais


Fonte: Corpo de Bombeiros - MG

Nos últimos 40 anos a humanidade viveu alguma de suas principais tragédias ambientais, em comum entre todas estava a ganância como motor delas, foram os casos por exemplo do acidente com a usina nuclear de Chernobyl na Ucrânia em1986; o de Bhopal na Índia em 1984; o derrame de petróleo na costa do Golfo do México em 2010; o acidente com o navio petroleiro Exxon Valdez no Alasca em1989; a Usina Nuclear de Fukushima em 2011; e agora o acidente do rompimento dos diques de contenção da Vale em Minas Gerais.

De fato. são casos no qual o número de vítimas humanas diretas foi diminuto, no entanto suas consequências para todo o planeta foram nefastas e perdurarão durante anos, afinal não é todo dia que um rio inteiro é morto, por conta de um desastre como foi o caso do Rio Doce. Acostumados que estamos com os noticiários de mortes, que ocupam boa parte dos telejornais (a diferença entre o José Luiz Datena e o Chico Pinheiro, é que o segundo é mais polido na fala, mas noticia tantas mortes e desastres como o primeiro), as tragédias parecem impactar apenas quando ultrapassa a escala dos milhares.

Em Chernobyl por exemplo, as toneladas de material radioativo liberadas pelo reator após o incêndio, equivale à algumas vezes a quantidade de radiação das bombas nucleares lançadas em Hiroshima e Nagasaki, mas enquanto as bombas mataram por volta de 300 mil pessoas diretamente, o acidente com o reator, em si, matou apenas 31 pessoas. O problema foi o elevado número de canceres provocados pela nuvem radioativa que se espalhou por toda a região do Leste europeu.

Outro exemplo de seletividade foi o que ocorreu em Bophal na Índia em 1984, quando 40 toneladas de gases químicos (isocianato de metila e hidrocianeto) vazaram da fábrica da Union Carbide Corporation, atual propriedade da Dow Química, estima-se que nos dias posteriores ao acidente, mas de 8 mil pessoas morreram, fora as consequências que influenciam as pessoas da região, mais de 30 anos após o desastre. Parece que 8 mil almas indianas, valem menos para comoção mundial do que 12 chargistas de um jornal francês.

Por último é preciso destacar o caso brasileiro, o desastre da barragem de rejeitos químicos que rompeu na última semana em Minas Gerias. As duas barragens eram de responsabilidade de uma Joint Venture entre Vale e BHP Bilton (respectivamente as duas maiores mineradoras do mundo), tal estratagema é utilizado pelas grandes corporações para as vezes se livrar dos ônus de desastres do tipo, repassando para uma terceira empresa os encargos, livrando a companhia principal. O caso do rompimento das barragens, localizadas no município de Mariana é sintomático, pois, as consequências vão muito além das 20 vítimas diretas, está se falando da morte inteira de um dos maiores rios do país, que atravessa o estado de Minas Gerais e o do Espírito Santo.

Milhões de vidas dependem direta e indiretamente desse rio, não se trata apenas dos empregos diretos, mas toda a dinâmica natural de uma macrorregião que foi dizimada pelaganância de uma empresa. Nesse cômputo é preciso também colocar a responsabilidade dos governos estaduais e federal. Ambos receberam vultosas somas de dinheiro para financiar as campanhas eleitorais, tanto de oposição quanto de situação. O resultado é que as fiscalizações e comprometimentos dos mesmos com as contrapartidas ambientais é mínimo, prova disso é que poucas semanas antes do desastre, discutia-se no Congresso Nacional um novo marco, que relaxa as exigências ambientais de grandes projetos de infraestrutura.

E mais, um governo na corda bamba, como o de Dilma atualmente, faz cada vez mais vistas grossas à esses compromissos ambientais, por meio de chantagem de empresários e de seus representantes no congresso. Por último é preciso destacar que a Vale foi privatizada por preço de banana durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso do PSDB, tudo para anos depois virar uma das maiores mineradoras do mundo, com filiais espalhadas por todo o planeta, mas, no contrato de venda, havia uma cláusula chamada de “Golden Share” na qual o antigo dono poderia desfazer-se do negócio, ou seja, foram quase 14 anos de governos ditos “nacionais populares”, que não desfizeram o negócio, garantindo que os lucros sempre crescentes da vale fossem distribuídos entre os acionistas (inclusive o governo federal via BNDES e fundos de pensão), lucros obtidos da exploração das riquezas minerais do país.

É preciso ressaltar que todos esses desastres aqui citados, ocorreram dentro da chamada “era industrial”, e não é possível esquecer daquele que pode se tornar o maior de todos os tempos que é a mudança climática resultante do aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, o resultado final será catastrófico para a humanidade, alterando a dinâmica climática do planeta em sua totalidade, tudo novamente por conta da ganância.

Não se trata obviamente de pensar um retorno para os níveis produtivos pré-industriais, alguns dos avanços indiretos tornaram a humanidade melhor, basta pensar nos avanços da medicina e da química. É preciso pensar em uma nova maneira de se pensar a produção da humanidade, que leve em conta não a ganancia desmedida, nem o desperdício, mas sim uma equalização dos ganhos produtivos e dos frutos do trabalho, para que o ser humano tenha uma relação direta com o planeta que não passe pela sua destruição, mas sim um intercâmbio melhor equacionado que retome a essência do trabalho, que é justamente a transformação do seu ambiente para sua sobrevivência, enquanto não realizar essa obra coletiva, o ser humano está fadado a repetir seus erros.

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