domingo, 31 de julho de 2011

O verdadeiro caráter da democracia no Brasil







Dirão os defensores da democracia que não há prova maior de sua consolidação no Brasil do que a declaração do Ministro da Defesa Nelson Jobim nesta semana, de que votou no candidato concorrente da atual mandatária, José Serra. Afinal, a democracia está tão consolidada que um governo pode manter em seu séquito um apoiador declarado de seu maior rival.
Na realidade não é uma prova de que a democracia brasileira funciona, essa declaração é a prova mais cabal de que ela nunca se realizou no nosso país. O PT se elegeu em 2002 há duras penas, após perder três eleições seguidas, e ter abandonado parte de seu ideário mais radical. Na realidade não é que ele se elegeu, a elite que comanda o país desde seu descobrimento é que permitiu ao PT subir ao poder.
O PT que defendia o socialismo jamais chegaria ao poder, pois a imensa maioria da população foi educada para rejeitar ideias que represente de fato a solução de seus problemas cotidianos. Ela não recebe uma educação política que torne sua escolha racional nas eleições, ela deve votar sempre nos candidatos que a elite permite.
A tão falada revolução burguesa nunca existiu, o país que sempre esteve inserido no capitalismo global se industrializou quando foi permitido a ele, se a falsa ideia de democracia que existe hoje é divulgada pelos quatro cantos é por que para o capital internacional tanto faz, tanto fez quem está no poder, seus interesses sempre serão defendidos pelos políticos e não os da população.
Jobim é o exemplo mais bem acabado desse aspecto da política nacional, o governo Lula defendeu uma política externa independente que privilegiava as relações entre os países em desenvolvimento, no entanto só podia fazer isso por que o ministério da defesa mantinha uma opção de apoiar Washington em tudo, uma prova disso é que uma das melhores opções para a modernização da força área nacional (os caças russos) foram deixados de lado em detrimento de sucatas aéreas fornecidas pela “misericórdia francesa e estadunidense”.
De nada adianta uma política externa independente caso o país não possa se defender de ameaças externas (e como essas ameaças entenda-se a quarta frota do Atlântico da marinha americana e não a retomada das refinarias de petróleo e gás pelo governo boliviano). Jobim foi mantido para atender aos interesses dos EUA, e também os interesses do PMDB.
O governo Lula só se manteve por que conseguiu conciliar o conservadorismo da nossa elite nacional (que prefere ser subserviente recebendo muito pouco da burguesia internacional) ao mesmo tempo em que entregava à população pobre uma falsa sensação de que seu poder de compra aumentou um pouco.
Nelson Jobim e seu PMDB representam tudo que há de pior no país, aqueles que só mandam nos outros por negar que a imensa maioria possa decidir seu destino. Enquanto nossa burguesia manter essa estrutura que tanto a beneficia, mas que beneficia muito mais a burguesia externa, o conceito de democracia jamais poderá ser efetivado no nosso país.
João Vicente Nascimento Lins 31/07/2011
Chage do cartunista Carlos Latuff, a charge representa bem quem de fato manda no nosso país.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Três Caminhos


Há algo que liga a morte da cantora Amy Winehouse, o massacre que ocorreu na Noruega e o escândalo dos grampos ilegais na Inglaterra. O fato de um ocorrer atrás do outro em sequencia parecendo uma conspiração para encobrir um ao outro é só o fato mais visível.
O que ninguém vê é o debate moral que perpassa pelos três fatos. A morte ainda não decifrada de Amy abre o caminho para especulações e o velho e bom discurso moralista em relação às drogas, e o quanto elas destroem o individuo. O debate sobre o massacre na Noruega também passa por esse assunto, afinal de tão inesperado e de tão sangrento a pergunta que fica é “Seria esse norueguês louco, ou pior ainda teria ele feito o que ele fez em plena posse de sua racionalidade”. E por último o caso das escutas ilegais: até onde uma empresa pode ir ao buscar lucros?
O fato é que ambos se ligam por que são frutos da nossa realidade. Dirão os moralistas que foi por escolha individual que Amy Winehouse agonizou em público nos últimos meses, mas ninguém parou e refletiu que apesar da tendência ao desequilíbrio que ela possuía, as drogas existiam antes dela, pessoas vivem caindo na armadilha do escapismo momentâneo das drogas por que embora ilegal seja um caminho que o capitalismo nos impõem. A realidade é dura, o individuo é obrigado a lidar com uma pressão enorme todos os dias, precisa arranjar um bom emprego, vencer na vida, tomar cuidado com seus amigos que podem te passar para trás, arranjar uma esposa, ter filhos, pagar impostos ter o carro do ano, uma casa, o fracasso é punido simplesmente com sua exclusão social, sendo um excluído o caminho que resta é a senda das drogas (embora nesse caso por apresentar um microcosmo próprio o caminho das drogas pode representar um sucesso momentâneo ao individuo dependendo do grupo social no qual está inserido).
O caso de Winehouse é sintomático, ela agonizou em público praticamente com nossa leniência, ela não aguentou o tranco que era a sua existência, muito menos o sucesso proveniente de seu grande talento, foi esquecido, da artista que ela era para só pensar na figura bombástica que fuma crack em um vídeo amador. Chega a ser até uma falsa moral, as pessoas que buscavam esse tipo de fotos dela, hoje em dia são as que a criticam por usar drogas, e não entendem que ela se afundava mais por que preferiam causar em cima de sua desgraça do que ajudarem a ela.
Agora provavelmente continuarão a chafurdar seu cadáver como se fossem abutres, mesmo morta não terá descanso, e assim como outras figuras que não aguentaram o tranco, terão empresários dispostos a lucrar com sua tragédia.
O caso das escutas ilegais da News Corp é reflexo disso, em busca de lucros maiores, e números de vendas maiores de seus jornais, os editores jogaram no lixo toda e qualquer ética que já existiu na profissão do jornalismo e ao invés de informar o público sobre sua realidade, prefere os entorpecer com notícias sobre celebridades, como se isso mudasse alguma coisa na vida de alguém, fora a da própria celebridade, que ao não se ver mais com privacidade pode entrar em uma senda destrutiva como a de Amy. Obviamente com o povão entorpecido, os políticos, e empresários podem mandar e desmandar em tudo, sem que haja resistência, as grandes potências invadem os países menores para roubar na cara dura sua matéria prima, enquanto isso a população desses países ricos preferem ver a foto de top less de uma modelo do que compreender o por que ela precisa trabalhar todos os dias da semana, com hora extra e ganhar tão pouco.
Nesse ponto é preciso falar sobre o caso do atirador da Noruega, se ele é louco ou não, não passa nem ao longe de ser o principal da discussão, número de seguidores de ultra direita no mundo impede que isso seja considerado um problema mental, eles existem, e embora não saem mantado as minorias todos os dias, seus seguidores crescem todos os dias, os nazistas podiam ser loucos, mas caso a população alemã não decidisse não lutar contra, por estar desmobilizada eles não teriam conseguido ir tão longe.
A população que prefere saber sobre o casamento de tal ator famoso é a mesma que ao se deparar com uma crise econômica, passa a ver no diferente a culpa de suas mazelas, e daí para o fundamentalismo generalizado é um passo curto.
Em um mundo no qual fazer uma bomba é mais barato e gera mais lucro do que educar uma criança não é de se estranhar em que nossa privacidade diminua a cada dia que passa, que ao não aguentar as pressões da busca incessante por lucro e sucesso a pessoa apele para o escapismo das drogas, e que se torne intolerante com quem pense de forma diferente ao primeiro sinal de que não irá vencer na vida.
O que ninguém fala sobre Amy Winehouse, o atirador norueguês e Robert Murdoch é que os três vivem em uma realidade na qual são impelidos a se alienar de serem humanos se tornando simples mercadorias por algo que foi inventado por outros seres humanos iguais a eles em um passado não muito distante.
João Vicente Nascimento Lins 26/07/2011