Diante de mais cenas
lamentáveis, de Manifestação de Professores sendo repreendida pela Polícia
Militar, dessa vez no Distrito Federal; Diante de também o fechamento inevitável
de 94 escolas no estado de São Paulo, republico um texto meu, que escrevi no
dia dos professores esse ano:
Armandinho |
O
ano de 2015 será considerado como paradigmático para a educação (pelo menos a
pública). Foi um ano no qual o governo federal começou indicando que o mote
seria "Pátria educadora", apenas para meses depois a pasta ser a que
sofreu o maior corte do orçamento.
Aparentemente
a educação pública foi para o centro do debate pelas razões erradas, a
categoria dos professores tornou-se vilã dos
orçamentos municipais e estaduais, por que apesar do desmonte imposto desde
1994, ela ainda é uma das mais mobilizadas por todo o país. Os professores de
humanas, mas não só, mantém seu caráter rebelde, de não aceitar a precarização
a olhos vistos, por mais " temporário " que seja sua situação. Assim,
desde o início do ano, os professores reagem ao maior ataque promovido contra
categoria em todas as esferas.
Os professores do Paraná ocuparam a
Assembléia Legislativa do estado para barrar um projeto do governador Beto Rixa
que colocava em risco a futura aposentadoria deles. Barraram temporariamente,
para dois meses depois o mesmo governo utilizar uma operação de guerra, ferindo
e reprimindo centenas de professores e outros funcionários públicos para enfim
aprovar o saque às reservas financeiras do fundo previdenciário.
Na esteira disso pipocou greves de
professores por todos os estados do país, com ênfase na dos professores de São
Paulo que durou mais de 3 meses e sofreu sérios ataques de difamação por parte
da imprensa. A greve
terminou derrotada, por um governador que se negou a dialogar e propor qualquer
coisa para a categoria, muito provavelmente preparava já na surdina o pacote de
maldades agora exposto.
Outra greve de professores foi a dos
professores das universidades públicas federais, o governo apesar de educador
no slogan, negou o diálogo, cortou aumentos salariais, exigiu paciência e o
sangue e suor e lágrimas dos professores para ajudar no esforço do ajuste
fiscal. Em troca ganharam de volta um dos piores ministros da educação de volta
e a possibilidade de não conseguirem dar aulas devido ao sucateamento de suas
universidades com atrasos no pagamento de contas de luz, água e dos
terceirizados da limpeza.
Se o foco da insatisfação são os
professores de humanas é preciso silenciar os mesmos, impondo a censura a eles
através de leis tanto no que diz respeito à moral, como a negação do ensino
sobre identidade de gênero nos planos de educação municipais, estaduais e
federal. Mas há uma
ameaça ainda pior que é a de através de leis estaduais e uma federal, impedir
ao professor ensinar sobre política ou mesmo emitir algum tipo de opinião,
tornando o professor um cidadão de segunda classe, afinal pode ser punido por
fazer aquilo que é a base da sua profissão, o ato de ensinar. Basta lembrar que
mesmo sem a dita lei, um professor de sociologia de Sorocaba foi preso e está
sendo processado pela PM de São Paulo, seu crime passar um trabalho para seus
alunos sobre a obra de Michel Foucault "Vigiar e Punir", algo que a
PM ofereceu uma aula prática de graça ao educador.
Há ainda pacote de maldades do estado de
São Paulo, que propõe fechar escolas, reorganizar os turnos e concentrar os
ciclos de ensino, além de agravar o problema de superlotação das salas de aula.
O objetivo oculto do programa é acabar com a necessidade do estado de recorrer
aos professores temporários e assim perder uma pedra no sapato, que é a
categoria de professores que mais se insurge contra o desmonte e sucateamento que
o grupo político dos tucanos promove contra os professores desde a década de
1980.
Como dito nesses exemplos professor foi
deslocado de base educacional da sociedade para inimigo público número 1 do
Estado e de toda a sociedade. Como nos últimos anos, não há o que professores
comemorarem neste dia 15 de outubro, o que não é impeditivo para nós, que a
exemplo dos últimos anos, ainda nos mantemos firmes e fortes, mesmo com os
baixos salários e falta de reconhecimento, afinal somos uma categoria, que
apesar de como todas as outras sofrer um processo acelerado de proletarização,
ainda acredita todos os dias que o salário baixo e o desrespeito não são
impeditivos, e que acredita que um aluno que aprende com você, e se torna um
ser humano pelos valores ensinados, o faz enfrentar todas essas adversidades.
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