terça-feira, 27 de outubro de 2015

Sobre a entrevista de Fernando Henrique Cardoso no Roda Viva

 
Charge de Angeli



Foi patético, para dizer no mínimo, a entrevista dada por Fernando Henrique Cardoso para o Programa Roda Viva na noite de 26 de outubro. O ex-presidente repetiu um expediente que ele tem se utilizado nas suas colunas do Globo e do Estadão de utilizar categorias vulgares para fazer análises políticas rasteiras.

A bem da verdade, os entrevistadores (alguns dos principais jornalistas dos maiores meios de comunicação do país) o interrompiam toda hora, impedindo-o de desenvolver um raciocínio mínimo que fosse com mais escopo. Mas isso não o exime de utilizar o termo “Presidencialismo de Cooptação” como uma variante da categoria “Presidencialismo de Coalizão”.

É como se o sociólogo abandonasse toda uma rica carreira teórica (concorde-se ou não sobre o que ele teorizou), e vestisse a roupa de “comentarista da internet” ao utilizar esses termos que foram popularizados por esses articulistas.

Como bom liberal ele defende muito bem as diferenciações entre público e privado, que só existem enquanto categoria analítica, ou seja, na prática, embora ele defenda isso, não há um sociólogo FHC, e um articulista FHC, ou então um FHC presidente, e um FHC civil, ou mesmo um FHC de lazer. Ele utiliza esses termos de modo deliberado, dando à eles uma pseudocientificidade a partir do carimbo que só uma trajetória acadêmica como a dele possibilita. Cumpre assim uma função ideológica clara de dar legitimidade ao discurso de oposição ao PT, tentando devolver a liderança política do bloco histórico atual ao seu grupo político.

É uma função digamos patética, mas que ele faz de modo competente desde que se aventurou politicamente na década de 1970, e que teve como ponto alto justamente a Presidência da República (1994-2002). Como ele bem salientou em uma de suas respostas, ele não disse a famosa frase “esqueça o que eu escrevi”, e de certo não abandonou os pressupostos de sua “teoria da dependência” escrita com Enzo Falleto, na qual em linhas gerais ele descrevia que o Brasil e os outros países dependentes, poderiam se integrar à economia global, e por sua vez se desenvolverem, não significando a dependência uma estagnação econômica em si mesmo.

Sua teoria, ao contrário da “Teoria da Dependência Marxista” de Ruy Mauro Marini, Vania Bambirra, Theotonio dos Santos e André Gunder Frank, não via como superação da situação de dependência o socialismo, mas sim o desenvolvimento capitalista em sua etapa monopolista. Uma vez presidente, foi exatamente isso que ele aplicou como agenda, implantando as reformas estruturais de caráter neoliberal, que contribuíram para integrar o Brasil no moderno fluxo de capitais “flutuantes”.

Assim fica claro, que o FHC intelectual, não é uma outra face do FHC presidente, ambos são o mesmo indivíduo, que cumpre uma função de intelectual orgânico do Capital, seja na defesa do neoliberalismo, ou na defesa da descriminalização da maconha. Sua biografia enquanto intelectual não se oblitera pelas besteiras ditas agora no fim de sua vida, elas apenas são uma atualização, de um papel que ele cumpriu por toda sua trajetória.

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