Charge de Angeli |
Foi
patético, para dizer no mínimo, a entrevista dada por Fernando Henrique Cardoso
para o Programa Roda Viva na noite de 26 de outubro. O ex-presidente repetiu um
expediente que ele tem se utilizado nas suas colunas do Globo e do Estadão de
utilizar categorias vulgares para fazer análises políticas rasteiras.
A
bem da verdade, os entrevistadores (alguns dos principais jornalistas dos
maiores meios de comunicação do país) o interrompiam toda hora, impedindo-o de
desenvolver um raciocínio mínimo que fosse com mais escopo. Mas isso não o
exime de utilizar o termo “Presidencialismo de Cooptação” como uma variante da
categoria “Presidencialismo de Coalizão”.
É
como se o sociólogo abandonasse toda uma rica carreira teórica (concorde-se ou
não sobre o que ele teorizou), e vestisse a roupa de “comentarista da internet”
ao utilizar esses termos que foram popularizados por esses articulistas.
Como
bom liberal ele defende muito bem as diferenciações entre público e privado,
que só existem enquanto categoria analítica, ou seja, na prática, embora ele
defenda isso, não há um sociólogo FHC, e um articulista FHC, ou então um FHC
presidente, e um FHC civil, ou mesmo um FHC de lazer. Ele utiliza esses termos
de modo deliberado, dando à eles uma pseudocientificidade a partir do carimbo
que só uma trajetória acadêmica como a dele possibilita. Cumpre assim uma
função ideológica clara de dar legitimidade ao discurso de oposição ao PT,
tentando devolver a liderança política do bloco histórico atual ao seu grupo
político.
É
uma função digamos patética, mas que ele faz de modo competente desde que se
aventurou politicamente na década de 1970, e que teve como ponto alto
justamente a Presidência da República (1994-2002). Como ele bem salientou em
uma de suas respostas, ele não disse a famosa frase “esqueça o que eu escrevi”,
e de certo não abandonou os pressupostos de sua “teoria da dependência” escrita
com Enzo Falleto, na qual em linhas gerais ele descrevia que o Brasil e os
outros países dependentes, poderiam se integrar à economia global, e por sua
vez se desenvolverem, não significando a dependência uma estagnação econômica
em si mesmo.
Sua
teoria, ao contrário da “Teoria da Dependência Marxista” de Ruy Mauro Marini,
Vania Bambirra, Theotonio dos Santos e André Gunder Frank, não via como
superação da situação de dependência o socialismo, mas sim o desenvolvimento
capitalista em sua etapa monopolista. Uma vez presidente, foi exatamente isso
que ele aplicou como agenda, implantando as reformas estruturais de caráter
neoliberal, que contribuíram para integrar o Brasil no moderno fluxo de
capitais “flutuantes”.
Assim
fica claro, que o FHC intelectual, não é uma outra face do FHC presidente,
ambos são o mesmo indivíduo, que cumpre uma função de intelectual orgânico do
Capital, seja na defesa do neoliberalismo, ou na defesa da descriminalização da
maconha. Sua biografia enquanto intelectual não se oblitera pelas besteiras
ditas agora no fim de sua vida, elas apenas são uma atualização, de um papel
que ele cumpriu por toda sua trajetória.
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