domingo, 16 de dezembro de 2012

Sobre o futebol



Antes de mais nada, parabéns ao Corinthians por vencer um adversário tão forte quanto o Chelsa. Em segundo lugar isso não é um texto de alguém com inveja, por que o arquirrival de seu time venceu um título mundial, enquanto que seu time é rebaixado no campeonato nacional.

Feito as ressalvas, o futebol, assim como cada aspecto da vida material e imaterial da nossa sociedade encontra-se extremamente mercadorizado (fetichizado). O capital dentro de seu ciclo de reprodução, torna desde a força de trabalho, as relações familiares, amorosas, sexuais, objeto de compra e venda no mercado. Uma vez que se torna produto, essas coisas imateriais atuam exercendo uma pressão subjetiva no individuo, principalmente devido ao seu caráter de construção da identidade imediata do individuo, logo se você não possui uma família, não possui um emprego, não faz sexo, há toda uma pressão externa da sociedade taxando o indivíduo como alguém que não se encaixa, o individuo não é completo, pois, não consegue “consumir” esses produtos, logo ele é fracassado e deve encontrar a solução para esses problemas na literatura de autoajuda ou então em substâncias entorpecentes seja elas ilegais ou legais.

A pressão ideológica para se construir uma identidade é tremenda, e justamente por ser ideológica, ela age na construção de uma falsa consciência, o individuo não se constrói mais enquanto aspectos políticos, enquanto o partido político, enquanto a nação, enquanto visão de mundo, mas sim enquanto o que ele consome, e nesse mundo consumista até o sistema político assume uma característica de mero consumo de mercadoria, não importa as ideias que o político defende, mas antes aquilo que o marketeiro define como prioridade.

O futebol enquanto mercadoria funciona ideologicamente de duas maneiras, na primeira ele substitui as determinações políticas de identidade do individuo por uma falsa consciência, na qual alguém que é tão explorado em uma empresa quanto o outro não tem mais enquanto inimigo quem o explora (ao contrário vende-se a ideia de que o futebol é mais democrático que a esfera econômica, afinal empregador e empregado podem levantar a mesma bandeira e serem “felizes” da mesma maneira), e sim o torcedor do time rival, entra aqui o segundo aspecto ideológico que seria a contribuição que a identidade do futebol tem para dividir a classe trabalhadora, afinal o torcedor do outro time mesmo que explorado tanto quanto eu, boa pessoa não é por que torce para o time x.

Enquanto mercadoria, ele age também movimentando enormes fatias de mercado, o de publicidade nas TVs, o de consumo de produtos diversos, alimentícios, vestuário, etc. as enormes cifras agem para afastar o consumidor da classe trabalhadora, e afastam o torcedor do time, gerando frustração de não consumo do produto pelo torcedor. Assim o futebol aliena o torcedor, mas também está alienado em relação ao seu torcedor, fato que no entanto, não diminui o ímpeto do torcedor.

Há, no entanto, aspectos mais irracionais como o fanatismo das torcidas organizadas (um polo aglutinador de ideias do lupem proletariado), que tornam o futebol quase que como uma religião, defendendo a eliminação física dos torcedores rivais, quando não, tornando extremos os preconceitos ligados à torcida adversária, contribuindo para a reificação de opressões minoritárias.

Com esse cenário extremamente pessimista, há que se pensar se o caso seria eliminar o futebol? Talvez não seja uma atitude tão extrema, o futebol, apesar de imerso em um caldeirão de irracionalidade, é também um instrumento de lazer importante ao corpo, muito embora a eliminação de suas facetas irracionais (rivalidade, ideologia, sua faceta de mercadoria), se torne assim como várias outras demandas da sociedade (reforma agrária, saúde, educação, fim da desigualdade social econômica) uma luta extremamente anticapitalista, mas que levada a cabo, possa finalmente recuperar a essência do futebol, que é o lazer.

João Vicente Nascimento Lins 16/12/2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Universidade vs Sociedade: uma falsa dicotomia



A lógica perversa de um mundo sempre do avesso, é que a população das cidades com campus universitários, entregue que estão à ideologia burguesa, vêem sempre com olhos negativos essas instituições, não por aquilo que representam atualmente (o celeiro de novas cabeças que reificam o pensamento burguês), mas sim por um ideal que a muito não existe (a universidade enquanto formadora de intelectuais que pensam toda a sociedade e soluções para os problemas da mesma).

Desse modo a universidade publica é sempre vista e a reafirmada por esses “grandes divulgadores da ideologia burguesa” que são os apresentadores de jornais “pinga sangue” como um antro de “vagabundos, usuários de drogas, filhinhos de papai etc.” Em nenhum momento há um intercambio que não seja do ódio.

A universidade por sua vez se fecha às demandas da sociedade em seu entorno presa na lógica do produtivismo fordista, e na disputa por cargos, bolsas e outras coisas do tipo que apenas reafirmam seu caráter aristocrático. Assim a barreira do ódio termina por tornar a sociedade cada vez mais individualista, consumista, “pós-moderna” enquanto que a universidade se torna cada vez mais individualista, consumista e pós moderna, ou seja, ficam todos presos em uma lógica do discurso ruidoso no qual apenas se beneficia quem está no poder econômico-político-ideológico, ou seja, a burguesia.

É tão ruidoso que não basta que um dos entes dessa equação tome posição e passe a exercer outro papel, a Universidade pode se abrir e se tornar mais democrática internamente, mas enquanto não se encaminha na desconstrução de um de seus pilares que é a formação de mão de obra qualificada para a reprodução do capital, e também para a reprodução da dominação da burguesia, dificilmente se construíra um caminho efetivo para uma universidade popular.

Em contrapartida, enquanto não se combater alguns meios de reprodução da ideologia burguesa, que incentivam o preconceito, a divisão de classe, a individualidade, atacando a segurança pessoal, sob a ameaça perene “de um favelado roubar suas coisas”, ou então “que a destruição das bases da religião pioram o mundo” (para ficar em exemplos mais imediatos), não se abrirá uma senda capaz de tornar a população mais esclarecida do papel de algumas instituições, e de sua importância, seja para reprodução da ordem social vigente, seja para ajudar na construção de um pensamento filosófico/social que nos aproxime do gênero humano.

Por mais elitista que a universidade seja, é inegável seu papel de formulação de pensamentos progressistas, ao mesmo tempo se esses pensamentos não encontram sua contraparte na materialidade que representa a maioria da população, sua classe trabalhadora, essas idéias progressistas se tornam simplesmente algo preso na casa das idéias. Ao mesmo tempo, a classe trabalhadora entorpecida por idéias que não sejam as suas, e que não encaminham na construção de uma realidade mais justa e progressista se torna presa indefesa para ser explorada como bem entender pelo grande capital. Assim o caminho de união do pensamento progressista universitário com a materialidade da classe trabalhadora é uma das bases (mas não a única) da construção de uma sociedade sem classes, justa e igualitária.

João Vicente Nascimento Lins 13/12/2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Relato visita ao Centro de Educação Popular Paulo Freire em Lins e ao Acampamento Independente em Sabino



Viver em uma família padrão de classe média termina por criar seres que vivem em uma bolha, muito embora nossa classe média viva momentos de crise econômica, as crianças criadas no modelo clássico de família, com pai e mãe, terminam por reproduzir quando não são abaladas por nenhum cataclismo os mesmos padrões de comportamento e de preconceitos expostos por seus pais, e pelo ambiente que o cerca.
Acontece que a criança vai crescendo e incorporando vivências, assim como o próprio processo de aprendizagem, o que pode levar ela a fugir do padrão imposto pelos seus pais e pela sociedade, e nesse ponto a bolha é rompida. Mas mesmo que a bolha de certos comportamentos seja rompidas, ainda vivemos com vários tabus e terminamos por reproduzi-los ad eternun vide nosso machismo velado, ou mesmo o preconceito em relação a pessoas pobres, ou sem cultura.
Mesmo o ambiente universitário termina por sua vez sendo uma extensão da casa de nossos pais, e ele nos isola do resto do mundo, isso fica claro na extrema e dificultosa relação de uma universidade com a comunidade externa, sendo a comunidade sempre classificada como fascista e a universidade como “antro de baderneiros”.
Dito tudo isso a visita ao Centro de Educação Popular Paulo Freire representou um “belo estouro de bolha”. Muito se discute sobre o papel da educação enquanto emancipação do individuo ou mesmo o seu papel de integrar os indivíduos quaisquer que sejam à sociedade (para falar bem a verdade o único papel que a educação cumpre atualmente é o de integrar a pessoa a sociedade). Nos cursos de licenciatura, por exemplo, somos apenas obrigados a reproduzir o sistema educacional sem refleti-lo, os alunos são entregues a nós devendo aos pedagogos fazerem o papel de fazer a integração inicial (a tão dita alfabetização), e nós a continuarmos e os preparar para os outros funis da vida (vestibular, concursos, universidade, cursos técnicos, empregos).

Entra-se em uma contradição gritante, vivemos em uma sociedade na qual o individuo é potencializado de forma ideológica (e negativa), mas ele é sempre tratado enquanto algo diluíd,o para o Estado, ele é apenas o cidadão sem identidade, e para o mercado a força de trabalho (seja ela material ou intelectual), exclui-se qualquer experiência individual dentro do processo de aprendizado, a educação só emancipa os mais capazes, o resto é treinado apenas para engrossar as fileiras do exercito industrial de reserva, ou do lupem proletariado.
Hoje em dia aos excluídos ainda é dado a chance de tentar integrar-se as exigências de mercado com os cursos de educação de jovens e adultos, ou mesmo de pessoas com necessidades especiais. Quando nós educadores licenciados somos obrigados a lidar com essas situações terminamos por cometer o mesmo erro que fazemos com nossos alunos “normais”, excluímos suas individualidades e particularidades e nesse caso especifico até a humanidade é esquecida.
Sem nem os alunos normais são vistos enquanto iguais, o que dizer daqueles que terminam por serem os mais excluídos. É um choque muito grande lidar com tal situação, o choque é ainda maior ao ver uma experiência educacional que termina por destoar do resto, e ir ao enfrentamento ideológico e mercadológico na hora de construir uma educação que de fato emancipa mais do que a praticada em toda a rede de ensino seja ela privada ou pública.
Esse é o caso do Centro de Educação Popular Paulo Freire em Lins, o Centro que conta com vários projetos trata seus alunos vistos como excluídos totalmente da sociedade, como humanos, e ao fazerem isso recuperam para a humanidade casos totalmente perdidos, pessoas com HIV, analfabetos, ex-trabalhadores rurais, mulheres oprimidas, deficientes mentais e físicos. E não se trata apenas de uma educação básica voltada para a simples integração ou inclusão, é uma educação que termina por levar esses indivíduos a se tornarem emancipados, e que termina por utilizar a experiência individual e a particularidade para ajudar nessa integração, recuperando e inserindo na sociedade de forma melhor, aqueles casos que viviam na derrota e na exclusão.

Não foi apenas a explosão da bolha que nos separa do mundo real, foi um verdadeiro soco no estomago, ao ver que uma pequena experiência com poucos recursos, com acesso a poucos instrumentos e aparelhos, consegue fazer aquilo que estruturas gigantes e complexas como universidades nem sonham em fazer com seus alunos, que é retomar a essência primordial do ensino, a integração na sociedade via emancipação, nossas universidades presas em sua aristocracia dos doutores e na reificação da ideologia dominante termina por se afastar a cada dia mais da sociedade, obedecendo apenas às necessidades do mercado, afastando-se cada vez mais da humanidade.
Mas essa aula de humanidade não ficou apenas na experiência de luta e de educação do Centro de Educação Popular Paulo Freire, ela continuou nas lições de luta política, ideológica e econômica dos trabalhadores rurais sem terra do Acampamento Independente em Sabino. São trabalhadores que apesar de toda a série de adversidades não se esquecem da lição mais duradora e concreta da luta por um mundo melhor “a luta continua e é contínua”, ou seja, por mais demorada e dolorosa que seja o caminho para um trabalhador é sempre esse, lutar por um mundo melhor, por uma vida melhor.
Dentro do modo de produção capitalista, e suas contradições reificadas todos os dias, apenas lutando por sua superação que aqueles que não possuem terras ou qualquer outro meio de reprodução social as conquistarão. É reconfortante para alguém que acredita na superação dessa sociedade burguesa podre, ver pessoas que acreditam e lutam por um mundo melhor, cada um a seu jeito, os trabalhadores desse acampamento com toda sua experiência de vida, conseguem passar para um estudante uma verdadeira aula de agroecologia, ou mesmo de economia política, ou de sociologia.

Alias é desesperador ter que confessar a alguém que luta tanto, que o Estado mesmo com todas as condições jamais fará a reforma agrária nesse país, não apenas pela vontade contrária da elite agrária do país, mas por que isso geraria um êxodo para o campo, ou seja, representaria uma quebra paradigmática do modelo de vida pregado pela superestrutura jurídico política cultural. Um campo no qual o modelo de produção defendido fosse o comunitário agroecológico é totalmente contrário ao individualista burguês mesquinho urbano, as pessoas sairiam da cidade, para ir viver com melhor qualidade no campo, e de forma diferente, e isso é pior do que qualquer perda econômica provocada aos grandes latifundiários. E por isso mesmo mais doloroso de se constatar.

Ao mesmo tempo em que, ver um trabalhador rural que vive em um barraco na beira de estrada com todas as dificuldades do mundo, as vezes vive melhor que você, ou mesmo que seus pais, ou então que sabe mais sobre teoria econômico política que vários de seus professores da universidade é algo único, um tipo de experiência que transforma totalmente um individuo (em todo os seus aspectos seja enquanto político, intelectual e humano).
A visita ao Centro de Educação Popular Paulo Freire e ao Acampamento Independente me transformou de um calouro em relação à sociedade em alguém agora com equivalente a um mestrado, a maior felicidade, no entanto é ver que mesmo com tantas dificuldades ainda é possível encontrar no mundo pessoas dispostas a lutar ideologicamente e politicamente contra a ordem vigente, contra o Estado, contra o Modo de Produção capitalista, por um mundo melhor, e pela humanidade.
Para todos aqueles do CEP Paulo Freire e do Acampamento Independente e todos aqueles que lutam pela humanidade:
Dissidência ou a arte de dissidiar
Há hora de somar
e hora de dividir.
Há tempo de esperar
e tempo de decidir

Tempos de resistir.
Tempos de explodir.
Tempos de criar asas, romper as cascas
porque é tempo de partir.

Partir partidos,
parir futuros,
partilhar amanheceres
há tanto tempo esquecidos.

Lá no fundo tínhamos um futuro
lá no futuro tem um presente
pronto para nascer
só esperando você se decidir.

Porque são tempos de decidir,
dissidiar, dissuadir,
tempos de dizer
que não são tempos de esperar.

Tempos de dizer:
não mais em nosso nome!
Se não pode se vestir com nossos sonhos
não fale em nosso nome.

Não mais construir casas
para que os ricos morem.
Não mais fazer o pão
que o explorador come.

Não mais em nosso nome!
Não mais nosso suor, o teu descanso.
Não mais nosso sangue, tua vida.
Não mais nossa miséria, tua riqueza.

Tempos de dizer
que não são tempos de calar
diante da injustiça e da mentira.
É tempo de lutar

É tempo de festa, tempo de cantar
as velhas canções e as que vamos inventar.
Tempos de criar, tempos de escolher.
Tempos de plantar os tempos que iremos colher.

É de dar nomes aos bois,
de levantar a cabeça
acima da boiada,
porque é tempo de tudo ou nada.

É tempo de rebeldia.
São tempos de rebelião.
É tempo de dissidência.
Já é tempo dos corações
pularem fora do peito
em passeata, em multidão
porque é tempo de dissidência
é tempo de revolução.

Mauro Luis Iasi Meta amor fases.

João Vicente Nascimento Lins 11/06/2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pequeno comentário acerca do corte de verbas da UEM

Há anos a UEM só funciona porque estudantes precisando de renda, exercem as funções burocráticas que deveriam ser exercidas por trabalhadores. Os estudantes recebem uma bolsa de R$300 que pouco podem ser utilizadas para pagar os caríssimos alugueis do entorno da universidade nem tão pouco comprar os livros que a BCE não possuí, mas seu trabalho contribui enormemente para o esforço de burocracia que é o dia a dia da universidade.
Com o eminente corte de verbas que a universidade sofreu esse ano e o fim da bolsa trabalho, o funcionamento geral da universidade será prejudicado com profundas consequências negativas para o tripé ensino, pesquisa e extensão, que farão com que a universidade perca mais recursos de bolsas, fora aumentar a quantidade de trabalho dos funcionários que já não é pouca, levando a uma piora e que a universidade perca seu caráter classista e de conhecimento voltado para o mercado, para que ela atenda a sociedade e que ela seja de fato popular, e não excludente como é hoje em dia.
João Vicente Nascimento Lins 26/01/2012

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Só tenho uma coisa a dizer

Mesmo que o governo federal fizesse algo a favor do povo do Pinheirinho a PM faria algo através de esquadrão da morte ou coisa do tipo, porque os bravos moradores do Pinheirinho ousaram fazer aquilo que sempre é negado ao povo, lutar pelos seus direitos por uma vida digna, lutar não esperar na apatia que os que tem tudo tirem o pouco ou nada que você tem, eles eram exemplos em uma realidade tão alienada como a nossa, e por conta disso precisariam servir de exemplo também para que outros não sigam seu exemplo.
O que devemos fazer a partir de agora é não ficar quieto, é lutar, lutar para que o exemplo de Pinheirinho não ter medo de lutar, ir para a rua e enfrentar esse sistema corrupto, e que apesar de ser construído por humanos não contribui em nada para a humanidade e sim para destruir ela.
Somos todos Pinheirinho!!!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

À Sombra de um Delírio Verde


À Sombra de um Delírio Verde from Mídia Livre on Vimeo.
Na região Sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, o povo indígena com a maior população no Brasil trava, quase silenciosamente, uma luta desigual pela reconquista de seu território.
Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, juntamente com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível “limpo” e ecologicamente correto.
Sem terra e sem floresta, os Guarani Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e trabalho escravo.
Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.

À Sombra de um Delírio Verde

Tempo: 29 min
Países: Argentina, Bélgica e Brasil
Narração: Fabiana Cozza
Direção: An Baccaert, Cristiano Navarro, Nicola Mu
www.thedarksideofgreen-themovie.com


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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sobre a desocupação do Pinheirinho em São José dos Campos


A desocupação que a prefeitura de São José dos Campos quer fazer no assentamento do Pinheirinho fala muito sobre a sociedade brasileira. Obviamente é também um caso sobre como a vontade capitalista consegue influenciar governos ao seu bel prazer para atender aos seus interesses, mas nesse caso ela diz mais sobre as características históricas do capitalismo nacional, assim como sua formação.
A burguesia brasileira é herdeira direta dos grandes proprietários de terra da época colonial, eles possuíam poderes totais sobre imensas fazendas cheias de escravos, o senhor do engenho possuía poderes quase que ditatoriais sobre todos os seres humanos que viviam em seu domínio, fossem de sua família, empregados ou mesmo os escravos, é também nesse momento que começa ganhar força na nossa elite a idéia de construir antípodas, pessoas que por algum motivo não pertenciam à mesma sociedade que os senhores de engenho e que eram vistos como inimigos sempre postos a destruir a sociedade, por possuírem uma cultura diferente, ou então por serem diferentes fisicamente dos europeus.
O primeiro dos antípodas à nascente sociedade brasileira foram os indígenas ,originais donos das terras, mas que por não serem cristãos e viverem no pecado, não mereciam a posse, logo após os índios mostrarem-se um tanto quanto avessos às tradições européias, principalmente ligadas ao trabalho, foi preciso trazer os escravos africanos para continuar o árduo trabalho de exploração de nossas terras. Surgia então um novo antípoda, o africano também não cristão, mas que devido a cor de sua pele tão diferente da européia também não poderia ser chamado de brasileiro.
Mesmo após o fim da escravidão o negro ainda é tratado como alguém inferior pela nossa burguesia, nunca deixando de ser um antípoda. No século XX no entanto com o processo de modernização do nosso país e do desenvolvimento econômico, ocorrerá no Brasil um fenômeno semelhante ao da Europa durante o século XIX, com o surgimento do proletariado industrial, e com o inicio das revoltas dos trabalhadores a burguesia européia passa a vê-los como antípodas. Aqui no Brasil ocorrerá algo semelhante, mas que envolve principalmente os trabalhadores que vieram do nordeste para os grandes centros urbanos do sudeste surgindo assim um novo antípoda. Essa negação do outro ocorre com os tipo que mais fogem do padrão de comportamento como com os nordestinos, estudantes, usuários de drogas, praticantes de outros ritos religiosos, homossexuais e as mulheres.
Assim a desocupação do assentamento do Pinheirinho não é apenas para a especulação imobiliária é para afastar do convívio toda uma série de antípodas representados pelos habitantes do assentamento, nossa burguesia descendente direta de aristocratas que vieram para cá apenas explorar o país com a esperança de retornar para Portugal é lá conseguir um título de nobreza melhor, não olha para um trabalhador e vê nele a possibilidade de extrair mais valia dele e ficar rico, ele observa antes de tudo um indíviduo que não merece dividir os mesmos espaços que ele, que no fundo não merece nem ser chamado de brasileiro.
As motivações econômicas de fato existem em todas as relações sociais no Brasil, mas cedem importância para uma característica aristocrática que insiste em não perecer, esse complexo de “Caco Antibes” explica o por que mesmo que Lula tenha continuado o neoliberalismo de FHC, levando a um novo patamar e tenha feito o país crescer, elevando em muito a fortuna da burguesia nacional, ela ainda não consegue permitir que um nordestino seja presidente ou mesmo uma mulher, mesmo que estes dois tenham beneficiado muito mais a burguesia do que os trabalhadores.
Todo apoio aos moradores do Pinheirinho que sua luta sirva de exemplo para tantas outras comunidades no Brasil que são ameaçadas todos os dias pela  especulação imobiliária e por esse pensamento aristocrático de nossa burguesia.

João Vicente Nascimento Lins 16/01/2012
Charge do cartunista Carlos Latuff
Vídeo retirado do canal do Claudio Capucho

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Capitalismo brasileiro do século XXI

O Brasil atinge um hoje um momento único em sua história, a cada dia que passa indicadores econômicos mostram melhorias visíveis para praticamente toda a sociedade, no que pese uma desaceleração econômica vista no segundo semestre, e que foi provocada pelo próprio governo, o erro foi corrigido e muito provavelmente será solucionado nos próximos meses.
O país se aproveita das oportunidades que o crescimento da economia mundial atravessou antes de 2008, e estimulado pelo governo uma ampla parcela da população adentrou na economia formal, essa parcela consome como a classe média, mas está muito longe do padrão de renda dessa classe econômica (muito embora o poder de consumo da classe média caiu muito devido ao alto endividamento e perda de capital dos anos FHC).
É preciso ficar atento ao alto grau de endividamento, para não gerar uma bolha especulativa semelhante a que estourou nos EUA e deu inicio à crise. No entanto esse texto não quer ser um aviso apenas do endividamento. O processo de crescimento brasileiro começa a fazer suas vítimas entre aqueles que ainda não vivem o milagre do consumo, apesar de falarem em número de mais de 40 milhões de pessoas que migraram de classe econômica nem todos dentre desse contingente possuem casa própria, um emprego bem remunerado, diploma universitário, e por viverem em favelas localizadas a áreas valorizadas, essas pessoas vivem um processo de deslocamento urbano.
Pelo pretexto da copa do mundo, inúmeras prefeituras das capitais estão realizando o sonho de suas elites, limpando dos bairros mais bem localizados os pobres que insistiam em lembra sobre a dura realidade do capitalismo (no qual muitos são explorados, para que poucos fiquem com toda a riqueza). Não bastasse a limpeza urbana, o governo se aproveita dos grandes eventos para explorar ainda mais a população pobre, que empurrada para longe de onde trabalha precisa pegar ônibus, ou então se endividar e comprar um carro novo aquecendo a economia, o governo aprovou na calada do ano novo, o plano de mobilidade urbana do país, que mais uma vez beneficia o transporte individual, e dá condições para que as mafias que controlam o transporte público urbano continuem a explorar a população cobrando preços proibitivos para o deslocamento urbano engrossando seus lucros.
O capitalismo brasileiro no século XXI pode ter aceitado novos consumidores, mas não muda sua faceta, ele só gera dividendos para bem poucos, e continuara nessa toada pelos próximos anos ao que tudo indica.
João Vicente Nascimento Lins 05/01/2012
Charge do sempre genial Carlos Latuff