Antes de mais nada, parabéns ao Corinthians
por vencer um adversário tão forte quanto o Chelsa. Em segundo lugar isso não é
um texto de alguém com inveja, por que o arquirrival de seu time venceu um
título mundial, enquanto que seu time é rebaixado no campeonato nacional.
Feito as ressalvas, o futebol,
assim como cada aspecto da vida material e imaterial da nossa sociedade
encontra-se extremamente mercadorizado (fetichizado). O capital dentro de seu
ciclo de reprodução, torna desde a força de trabalho, as relações familiares,
amorosas, sexuais, objeto de compra e venda no mercado. Uma vez que se torna
produto, essas coisas imateriais atuam exercendo uma pressão subjetiva no
individuo, principalmente devido ao seu caráter de construção da identidade
imediata do individuo, logo se você não possui uma família, não possui um
emprego, não faz sexo, há toda uma pressão externa da sociedade taxando o
indivíduo como alguém que não se encaixa, o individuo não é completo, pois, não
consegue “consumir” esses produtos, logo ele é fracassado e deve encontrar a
solução para esses problemas na literatura de autoajuda ou então em substâncias
entorpecentes seja elas ilegais ou legais.
A pressão ideológica para se
construir uma identidade é tremenda, e justamente por ser ideológica, ela age
na construção de uma falsa consciência, o individuo não se constrói mais
enquanto aspectos políticos, enquanto o partido político, enquanto a nação,
enquanto visão de mundo, mas sim enquanto o que ele consome, e nesse mundo
consumista até o sistema político assume uma característica de mero consumo de
mercadoria, não importa as ideias que o político defende, mas antes aquilo que
o marketeiro define como prioridade.
O futebol enquanto mercadoria
funciona ideologicamente de duas maneiras, na primeira ele substitui as
determinações políticas de identidade do individuo por uma falsa consciência,
na qual alguém que é tão explorado em uma empresa quanto o outro não tem mais
enquanto inimigo quem o explora (ao contrário vende-se a ideia de que o futebol
é mais democrático que a esfera econômica, afinal empregador e empregado podem
levantar a mesma bandeira e serem “felizes” da mesma maneira), e sim o torcedor
do time rival, entra aqui o segundo aspecto ideológico que seria a contribuição
que a identidade do futebol tem para dividir a classe trabalhadora, afinal o
torcedor do outro time mesmo que explorado tanto quanto eu, boa pessoa não é
por que torce para o time x.
Enquanto mercadoria, ele age
também movimentando enormes fatias de mercado, o de publicidade nas TVs, o de
consumo de produtos diversos, alimentícios, vestuário, etc. as enormes cifras agem
para afastar o consumidor da classe trabalhadora, e afastam o torcedor do time,
gerando frustração de não consumo do produto pelo torcedor. Assim o futebol aliena
o torcedor, mas também está alienado em relação ao seu torcedor, fato que no
entanto, não diminui o ímpeto do torcedor.
Há, no entanto, aspectos mais
irracionais como o fanatismo das torcidas organizadas (um polo aglutinador de
ideias do lupem proletariado), que tornam o futebol quase que como uma
religião, defendendo a eliminação física dos torcedores rivais, quando não,
tornando extremos os preconceitos ligados à torcida adversária, contribuindo
para a reificação de opressões minoritárias.
Com esse cenário extremamente
pessimista, há que se pensar se o caso seria eliminar o futebol? Talvez não
seja uma atitude tão extrema, o futebol, apesar de imerso em um caldeirão de
irracionalidade, é também um instrumento de lazer importante ao corpo, muito embora
a eliminação de suas facetas irracionais (rivalidade, ideologia, sua faceta de
mercadoria), se torne assim como várias outras demandas da sociedade (reforma
agrária, saúde, educação, fim da desigualdade social econômica) uma luta
extremamente anticapitalista, mas que levada a cabo, possa finalmente recuperar
a essência do futebol, que é o lazer.
João Vicente Nascimento Lins 16/12/2012
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