segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sobre a desocupação do Pinheirinho em São José dos Campos


A desocupação que a prefeitura de São José dos Campos quer fazer no assentamento do Pinheirinho fala muito sobre a sociedade brasileira. Obviamente é também um caso sobre como a vontade capitalista consegue influenciar governos ao seu bel prazer para atender aos seus interesses, mas nesse caso ela diz mais sobre as características históricas do capitalismo nacional, assim como sua formação.
A burguesia brasileira é herdeira direta dos grandes proprietários de terra da época colonial, eles possuíam poderes totais sobre imensas fazendas cheias de escravos, o senhor do engenho possuía poderes quase que ditatoriais sobre todos os seres humanos que viviam em seu domínio, fossem de sua família, empregados ou mesmo os escravos, é também nesse momento que começa ganhar força na nossa elite a idéia de construir antípodas, pessoas que por algum motivo não pertenciam à mesma sociedade que os senhores de engenho e que eram vistos como inimigos sempre postos a destruir a sociedade, por possuírem uma cultura diferente, ou então por serem diferentes fisicamente dos europeus.
O primeiro dos antípodas à nascente sociedade brasileira foram os indígenas ,originais donos das terras, mas que por não serem cristãos e viverem no pecado, não mereciam a posse, logo após os índios mostrarem-se um tanto quanto avessos às tradições européias, principalmente ligadas ao trabalho, foi preciso trazer os escravos africanos para continuar o árduo trabalho de exploração de nossas terras. Surgia então um novo antípoda, o africano também não cristão, mas que devido a cor de sua pele tão diferente da européia também não poderia ser chamado de brasileiro.
Mesmo após o fim da escravidão o negro ainda é tratado como alguém inferior pela nossa burguesia, nunca deixando de ser um antípoda. No século XX no entanto com o processo de modernização do nosso país e do desenvolvimento econômico, ocorrerá no Brasil um fenômeno semelhante ao da Europa durante o século XIX, com o surgimento do proletariado industrial, e com o inicio das revoltas dos trabalhadores a burguesia européia passa a vê-los como antípodas. Aqui no Brasil ocorrerá algo semelhante, mas que envolve principalmente os trabalhadores que vieram do nordeste para os grandes centros urbanos do sudeste surgindo assim um novo antípoda. Essa negação do outro ocorre com os tipo que mais fogem do padrão de comportamento como com os nordestinos, estudantes, usuários de drogas, praticantes de outros ritos religiosos, homossexuais e as mulheres.
Assim a desocupação do assentamento do Pinheirinho não é apenas para a especulação imobiliária é para afastar do convívio toda uma série de antípodas representados pelos habitantes do assentamento, nossa burguesia descendente direta de aristocratas que vieram para cá apenas explorar o país com a esperança de retornar para Portugal é lá conseguir um título de nobreza melhor, não olha para um trabalhador e vê nele a possibilidade de extrair mais valia dele e ficar rico, ele observa antes de tudo um indíviduo que não merece dividir os mesmos espaços que ele, que no fundo não merece nem ser chamado de brasileiro.
As motivações econômicas de fato existem em todas as relações sociais no Brasil, mas cedem importância para uma característica aristocrática que insiste em não perecer, esse complexo de “Caco Antibes” explica o por que mesmo que Lula tenha continuado o neoliberalismo de FHC, levando a um novo patamar e tenha feito o país crescer, elevando em muito a fortuna da burguesia nacional, ela ainda não consegue permitir que um nordestino seja presidente ou mesmo uma mulher, mesmo que estes dois tenham beneficiado muito mais a burguesia do que os trabalhadores.
Todo apoio aos moradores do Pinheirinho que sua luta sirva de exemplo para tantas outras comunidades no Brasil que são ameaçadas todos os dias pela  especulação imobiliária e por esse pensamento aristocrático de nossa burguesia.

João Vicente Nascimento Lins 16/01/2012
Charge do cartunista Carlos Latuff
Vídeo retirado do canal do Claudio Capucho

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