Uma das plataformas que o PT mais utilizou em suas propagandas eleitorais nos últimos anos foi a de conseguir um aumento real do salário mínimo nos oito anos do governo Lula. Todos os anos o salário era reajustado em um nível até maior do que a inflação, e para nadar em céu de brigadeiro, foi feito um acordo com as centrais sindicais por volta de 2007 no qual o reajuste seria feito utilizando o PIB do ano retrasado, somado o índice de inflação do ano anterior.
Apesar de algumas ameaças o aumento foi mantido, mas em 2007, ninguém imaginava que o mundo seria tragado por uma crise econômica sem paralelos na história recente, e como o Brasil foi afetado pela crise em 2009 o crescimento do PIB foi de certa forma negativo (a crise no Brasil foi mais ocasionada pelo pânico gerado pela mídia do que por problemas econômicos tais como dívida externa grande, queda de exportações, e fuga de investimentos financeiros).
Até 2011 o PIB negativo de 2009 ainda não havia entrado nos cálculos do reajuste, mas como os problemas sempre nos atingem em algum momento, essa hora chegou, e em um momento de certa forma chave. Afinal ocorre bem no início de um novo governo, o Governo Dilma, e no que pese a experiência administrativa da presidente, falta ver como ela agirá em questões políticas.
A economia brasileira se recuperou em 2010, de um PIB negativo no ano anterior, há expectativa de ter atingido mais de 7% de crescimento, com uma economia aquecida, os salários precisam subir em um ritmo semelhante, por que onde tem crescimento, sempre há o velho mal da inflação.
A inflação que ameaça a economia brasileira não é oriunda apenas do aquecimento da economia, ela tem uma origem na necessidade do “mercado” controlar a nova presidente. Dilma é uma incógnita, mas ela dá todos os sinais de que seguirá os passos do governo Lula, mas para não haver riscos, de ela abandonar as velhas medidas ortodoxas de juros altos brasileiros, que garantem imensos lucros aos bancos, e investidores (principalmente dos que investem nos papéis de dívidas brasileiros), o movimento do mercado é garantir que o Banco Central continue com os juros altos, mesmo que isso atravanque o crescimento do país como o terremoto do Haiti fez com o país caribenho.
Assim com um mês e meio de governo Dilma se vê em um dilema imenso, as centrais sindicais têm pressionado para que o aumento desse ano seja maior, afinal a inflação mesmo que seja uma medida do “mercado” é real, o poder de compra brasileiro diminuiu os preços dos alimentos, seguindo uma tendência mundial não dão sinais de que irão parar de subir tão cedo (outro problema que o mundo precisa enfrentar é a monopolização da cadeia produtiva dos alimentos que está ocorrendo atualmente, as redes de varejo já possuem o controle total das cadeias de vários alimentos).
Não bastasse a ameaça dos trabalhadores, os juros altos brasileiros criam outro problema, o Brasil precisa gastar grandes somas do seu orçamento, para pagar os títulos de dívida, e como a soberania brasileira funciona até certo ponto, o país sofre a pressão de outras potências e de seus credores para haver cortes nos gastos correntes do país, para que sejamos um “ambiente seguro para investimentos externos”. A isso somasse o fato de que nossa moeda está valorizada, com isso nossas exportações se tornam menos atraentes, aumentando a desindustrialização brasileira.
Com todos esses componentes, Dilma precisa escolher, se irá ficar do lado dos trabalhadores, mantendo a tradição do seu partido de defender os trabalhadores, ou se manterá o caminho já seguido por Lula de ficar do lado dos “patrões”. Não deixa de ser uma grande ironia que o Partido dos Trabalhadores, uma vez no poder faça mais pela classe burguesa, do que por seus eleitores históricos, os trabalhadores.
João Vicente Nascimento Lins 09/02/2011
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