Há algo que liga a morte da cantora Amy Winehouse, o massacre que ocorreu na Noruega e o escândalo dos grampos ilegais na Inglaterra. O fato de um ocorrer atrás do outro em sequencia parecendo uma conspiração para encobrir um ao outro é só o fato mais visível.
O que ninguém vê é o debate moral que perpassa pelos três fatos. A morte ainda não decifrada de Amy abre o caminho para especulações e o velho e bom discurso moralista em relação às drogas, e o quanto elas destroem o individuo. O debate sobre o massacre na Noruega também passa por esse assunto, afinal de tão inesperado e de tão sangrento a pergunta que fica é “Seria esse norueguês louco, ou pior ainda teria ele feito o que ele fez em plena posse de sua racionalidade”. E por último o caso das escutas ilegais: até onde uma empresa pode ir ao buscar lucros?
O fato é que ambos se ligam por que são frutos da nossa realidade. Dirão os moralistas que foi por escolha individual que Amy Winehouse agonizou em público nos últimos meses, mas ninguém parou e refletiu que apesar da tendência ao desequilíbrio que ela possuía, as drogas existiam antes dela, pessoas vivem caindo na armadilha do escapismo momentâneo das drogas por que embora ilegal seja um caminho que o capitalismo nos impõem. A realidade é dura, o individuo é obrigado a lidar com uma pressão enorme todos os dias, precisa arranjar um bom emprego, vencer na vida, tomar cuidado com seus amigos que podem te passar para trás, arranjar uma esposa, ter filhos, pagar impostos ter o carro do ano, uma casa, o fracasso é punido simplesmente com sua exclusão social, sendo um excluído o caminho que resta é a senda das drogas (embora nesse caso por apresentar um microcosmo próprio o caminho das drogas pode representar um sucesso momentâneo ao individuo dependendo do grupo social no qual está inserido).
O caso de Winehouse é sintomático, ela agonizou em público praticamente com nossa leniência, ela não aguentou o tranco que era a sua existência, muito menos o sucesso proveniente de seu grande talento, foi esquecido, da artista que ela era para só pensar na figura bombástica que fuma crack em um vídeo amador. Chega a ser até uma falsa moral, as pessoas que buscavam esse tipo de fotos dela, hoje em dia são as que a criticam por usar drogas, e não entendem que ela se afundava mais por que preferiam causar em cima de sua desgraça do que ajudarem a ela.
Agora provavelmente continuarão a chafurdar seu cadáver como se fossem abutres, mesmo morta não terá descanso, e assim como outras figuras que não aguentaram o tranco, terão empresários dispostos a lucrar com sua tragédia.
O caso das escutas ilegais da News Corp é reflexo disso, em busca de lucros maiores, e números de vendas maiores de seus jornais, os editores jogaram no lixo toda e qualquer ética que já existiu na profissão do jornalismo e ao invés de informar o público sobre sua realidade, prefere os entorpecer com notícias sobre celebridades, como se isso mudasse alguma coisa na vida de alguém, fora a da própria celebridade, que ao não se ver mais com privacidade pode entrar em uma senda destrutiva como a de Amy. Obviamente com o povão entorpecido, os políticos, e empresários podem mandar e desmandar em tudo, sem que haja resistência, as grandes potências invadem os países menores para roubar na cara dura sua matéria prima, enquanto isso a população desses países ricos preferem ver a foto de top less de uma modelo do que compreender o por que ela precisa trabalhar todos os dias da semana, com hora extra e ganhar tão pouco.
Nesse ponto é preciso falar sobre o caso do atirador da Noruega, se ele é louco ou não, não passa nem ao longe de ser o principal da discussão, número de seguidores de ultra direita no mundo impede que isso seja considerado um problema mental, eles existem, e embora não saem mantado as minorias todos os dias, seus seguidores crescem todos os dias, os nazistas podiam ser loucos, mas caso a população alemã não decidisse não lutar contra, por estar desmobilizada eles não teriam conseguido ir tão longe.
A população que prefere saber sobre o casamento de tal ator famoso é a mesma que ao se deparar com uma crise econômica, passa a ver no diferente a culpa de suas mazelas, e daí para o fundamentalismo generalizado é um passo curto.
Em um mundo no qual fazer uma bomba é mais barato e gera mais lucro do que educar uma criança não é de se estranhar em que nossa privacidade diminua a cada dia que passa, que ao não aguentar as pressões da busca incessante por lucro e sucesso a pessoa apele para o escapismo das drogas, e que se torne intolerante com quem pense de forma diferente ao primeiro sinal de que não irá vencer na vida.
O que ninguém fala sobre Amy Winehouse, o atirador norueguês e Robert Murdoch é que os três vivem em uma realidade na qual são impelidos a se alienar de serem humanos se tornando simples mercadorias por algo que foi inventado por outros seres humanos iguais a eles em um passado não muito distante.
João Vicente Nascimento Lins 26/07/2011
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