quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pão, circo e o sonho do príncipe encantado


Marx começa uma de suas obras primas “O 18 Brumário de Luis Bonaparte” citando Hegel e ironizando ainda por cima:
“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Caussidière por Danton, Louis Blanc por Robespierre, a Montanha de 1845-1851 pela Montanha de 1793-1795, o sobrinho pelo tio. E a mesma caricatura ocorre nas circunstâncias que acompanham a segunda edição do Dezoito Brumário!”[1]
Obviamente não se trata de uma lei universal, mas sim de uma constatação possível de ser feita de fatos históricos, que ocorrem de formas semelhantes, pois as contradições encontradas na realidade não foram superadas em ambas as épocas.
Pois bem, esmiuçando isso podemos voltar ao objetivo do texto que é falar sobre o casamento do Príncipe William que ocorrerá no próximo dia 29 de abril, e ao falar de seu casamento não dá para não compara-lo com o de sua mãe ocorrido há 29 anos.
Afinal a Inglaterra de 2011 lembra muito a de 1981, um país em crise econômica, com a economia estagnada, uma coalizão governamental entre conservadores e liberais (no caso de 1981 era só os conservadores liderados por Margareth Tatcher) que ainda não disse ao que veio, enfim condições propícias a baixar a moral de qualquer povo do mundo.
A solução para espantar revoltas e reforçar o orgulho nacional é somente uma, reforçar os valores que ainda tornam os britânicos melhores, ou então um povo único no planeta, que é reviver um passado longínquo trazendo a ideia da monarquia e do finado Império Britânico.
Para isso a população é entorpecida com os rituais de casamento, e a esperança de que esse símbolo da ideia do que é ser britânico continue a perdurar, mesmo que os poderes de chefe de Estado dos monarcas ingleses sejam irrelevantes no contexto atual.
Assim a farsa que repete a tragédia não é o ato do casamento em si, mas o que ele representa a utilização do nacionalismo para entorpecer a população, legitimar um governo não tão popular (afinal foi preciso uma coalizão de forças partidárias para atingir a maioria e conseguir governar) evitando que a onda de protestos do mundo árabe que chegou até ao coração dos EUA chegue também ao outro centro do capitalismo financeiro mundial.
Mesmo que a monarquia britânica possua um papel meramente figurativo no dia a dia do país, diante da necessidade se torna uma arma política poderosa, arma essa que atravessa as fronteira da ilha e alastra-se por todo mundo na simbologia da plebeia que se torna princesa e pode vir a ser rainha algum dia, movimentando todo o sonho de inúmeras mulheres pobres, sem escolaridade de que um dia também podem vencer na vida caso encontre um príncipe encantado, reforçando a diminuição da mulher frente aos homens mesmo que a nova princesa seja vendida como uma mulher fina, inteligente e engajada, os estereótipos reais passam por cima disso e podem acabar até com a vida da pessoa caso ela fuja do seu papel pré-estabelecido (vide o triste fim da princesa Diana).
A monarquia britânica sobreviveu às revoluções burguesas e a inúmeras crises econômicas, e tudo leva a crer que sobreviverá à mais coisas, pois continua a ter sucesso nos momentos em que é necessária a manutenção da ordem social, nesse cenário cabe ao povo britânico não aceitar essa política de pão e circo e combater essas estruturas arcaicas de poder.
João Vicente Nascimento Lins 27/04/2011


[1]Esse trecho foi retirado da edição online no texto presente no seguinte endereço : O 18 Brumário de LuisBonaparte

Um comentário:

Vibola disse...

ótima analise dex!