domingo, 16 de dezembro de 2012

Sobre o futebol



Antes de mais nada, parabéns ao Corinthians por vencer um adversário tão forte quanto o Chelsa. Em segundo lugar isso não é um texto de alguém com inveja, por que o arquirrival de seu time venceu um título mundial, enquanto que seu time é rebaixado no campeonato nacional.

Feito as ressalvas, o futebol, assim como cada aspecto da vida material e imaterial da nossa sociedade encontra-se extremamente mercadorizado (fetichizado). O capital dentro de seu ciclo de reprodução, torna desde a força de trabalho, as relações familiares, amorosas, sexuais, objeto de compra e venda no mercado. Uma vez que se torna produto, essas coisas imateriais atuam exercendo uma pressão subjetiva no individuo, principalmente devido ao seu caráter de construção da identidade imediata do individuo, logo se você não possui uma família, não possui um emprego, não faz sexo, há toda uma pressão externa da sociedade taxando o indivíduo como alguém que não se encaixa, o individuo não é completo, pois, não consegue “consumir” esses produtos, logo ele é fracassado e deve encontrar a solução para esses problemas na literatura de autoajuda ou então em substâncias entorpecentes seja elas ilegais ou legais.

A pressão ideológica para se construir uma identidade é tremenda, e justamente por ser ideológica, ela age na construção de uma falsa consciência, o individuo não se constrói mais enquanto aspectos políticos, enquanto o partido político, enquanto a nação, enquanto visão de mundo, mas sim enquanto o que ele consome, e nesse mundo consumista até o sistema político assume uma característica de mero consumo de mercadoria, não importa as ideias que o político defende, mas antes aquilo que o marketeiro define como prioridade.

O futebol enquanto mercadoria funciona ideologicamente de duas maneiras, na primeira ele substitui as determinações políticas de identidade do individuo por uma falsa consciência, na qual alguém que é tão explorado em uma empresa quanto o outro não tem mais enquanto inimigo quem o explora (ao contrário vende-se a ideia de que o futebol é mais democrático que a esfera econômica, afinal empregador e empregado podem levantar a mesma bandeira e serem “felizes” da mesma maneira), e sim o torcedor do time rival, entra aqui o segundo aspecto ideológico que seria a contribuição que a identidade do futebol tem para dividir a classe trabalhadora, afinal o torcedor do outro time mesmo que explorado tanto quanto eu, boa pessoa não é por que torce para o time x.

Enquanto mercadoria, ele age também movimentando enormes fatias de mercado, o de publicidade nas TVs, o de consumo de produtos diversos, alimentícios, vestuário, etc. as enormes cifras agem para afastar o consumidor da classe trabalhadora, e afastam o torcedor do time, gerando frustração de não consumo do produto pelo torcedor. Assim o futebol aliena o torcedor, mas também está alienado em relação ao seu torcedor, fato que no entanto, não diminui o ímpeto do torcedor.

Há, no entanto, aspectos mais irracionais como o fanatismo das torcidas organizadas (um polo aglutinador de ideias do lupem proletariado), que tornam o futebol quase que como uma religião, defendendo a eliminação física dos torcedores rivais, quando não, tornando extremos os preconceitos ligados à torcida adversária, contribuindo para a reificação de opressões minoritárias.

Com esse cenário extremamente pessimista, há que se pensar se o caso seria eliminar o futebol? Talvez não seja uma atitude tão extrema, o futebol, apesar de imerso em um caldeirão de irracionalidade, é também um instrumento de lazer importante ao corpo, muito embora a eliminação de suas facetas irracionais (rivalidade, ideologia, sua faceta de mercadoria), se torne assim como várias outras demandas da sociedade (reforma agrária, saúde, educação, fim da desigualdade social econômica) uma luta extremamente anticapitalista, mas que levada a cabo, possa finalmente recuperar a essência do futebol, que é o lazer.

João Vicente Nascimento Lins 16/12/2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Universidade vs Sociedade: uma falsa dicotomia



A lógica perversa de um mundo sempre do avesso, é que a população das cidades com campus universitários, entregue que estão à ideologia burguesa, vêem sempre com olhos negativos essas instituições, não por aquilo que representam atualmente (o celeiro de novas cabeças que reificam o pensamento burguês), mas sim por um ideal que a muito não existe (a universidade enquanto formadora de intelectuais que pensam toda a sociedade e soluções para os problemas da mesma).

Desse modo a universidade publica é sempre vista e a reafirmada por esses “grandes divulgadores da ideologia burguesa” que são os apresentadores de jornais “pinga sangue” como um antro de “vagabundos, usuários de drogas, filhinhos de papai etc.” Em nenhum momento há um intercambio que não seja do ódio.

A universidade por sua vez se fecha às demandas da sociedade em seu entorno presa na lógica do produtivismo fordista, e na disputa por cargos, bolsas e outras coisas do tipo que apenas reafirmam seu caráter aristocrático. Assim a barreira do ódio termina por tornar a sociedade cada vez mais individualista, consumista, “pós-moderna” enquanto que a universidade se torna cada vez mais individualista, consumista e pós moderna, ou seja, ficam todos presos em uma lógica do discurso ruidoso no qual apenas se beneficia quem está no poder econômico-político-ideológico, ou seja, a burguesia.

É tão ruidoso que não basta que um dos entes dessa equação tome posição e passe a exercer outro papel, a Universidade pode se abrir e se tornar mais democrática internamente, mas enquanto não se encaminha na desconstrução de um de seus pilares que é a formação de mão de obra qualificada para a reprodução do capital, e também para a reprodução da dominação da burguesia, dificilmente se construíra um caminho efetivo para uma universidade popular.

Em contrapartida, enquanto não se combater alguns meios de reprodução da ideologia burguesa, que incentivam o preconceito, a divisão de classe, a individualidade, atacando a segurança pessoal, sob a ameaça perene “de um favelado roubar suas coisas”, ou então “que a destruição das bases da religião pioram o mundo” (para ficar em exemplos mais imediatos), não se abrirá uma senda capaz de tornar a população mais esclarecida do papel de algumas instituições, e de sua importância, seja para reprodução da ordem social vigente, seja para ajudar na construção de um pensamento filosófico/social que nos aproxime do gênero humano.

Por mais elitista que a universidade seja, é inegável seu papel de formulação de pensamentos progressistas, ao mesmo tempo se esses pensamentos não encontram sua contraparte na materialidade que representa a maioria da população, sua classe trabalhadora, essas idéias progressistas se tornam simplesmente algo preso na casa das idéias. Ao mesmo tempo, a classe trabalhadora entorpecida por idéias que não sejam as suas, e que não encaminham na construção de uma realidade mais justa e progressista se torna presa indefesa para ser explorada como bem entender pelo grande capital. Assim o caminho de união do pensamento progressista universitário com a materialidade da classe trabalhadora é uma das bases (mas não a única) da construção de uma sociedade sem classes, justa e igualitária.

João Vicente Nascimento Lins 13/12/2012